Situada a 120km de Belo Horizonte e a 17 Km de Ouro Preto com população de pouco mais de 1.500 habitantes de maioria negra e cultura rica em estória, folclores e lendas de domínio popular, baseados em acontecimentos ocorridos entre o quilombo (negros e brancos fugidos) e as milícias no período colonial. Porém a história do aparecimento do povoado retrocede as datas registradas.

Lavras Novas do Coronel Furtado, fora descoberta pela família Cubas de Mendonça, considerada uma mineração de ouro localizado, tendo direito a capela e cultos ecumênicos. Sendo de 1717 o documento mais antigo encontrado (batistério de Maria dos Prazeres, filha de tradicional família paulista da época) e evidências que provam que existiu minas auríferas antes das existentes em Mariana e Ouro Preto – segundo Cristina Tárcia – redatora do Jornal Ouro Preto.

Atualmente Lavras Novas apresenta condições favoráveis para seu desenvolvimento turístico e econômico, aprimorando sua infra-estrutura para melhor atender seus visitantes. Investindo e crescendo nas áreas de hospedagem, casas noturnas, bares e restaurantes, e por estar situada em pleno parque Nacional do Itacolomi com suas belezas naturais preservadas, pela população consciente das riquezas existentes em sua fauna e flora, atraindo os praticantes de esportes radicais e os que apreciam a calma e a simplicidade do interior.

Antes de chegar a Lavras Novas, qualquer pessoa que vai pela primeira vez à localidade fica admirado com a topografia do terreno. Enormes blocos de pedra estão dispostos ao longo da estrada, como se tivessem sido jogados do alto da montanha e se equilibrassem ali, podendo continuar a rolar montanha abaixo a qualquer momento.

Pesquisa recente tem demonstrado que a região provavelmente foi descoberta por Antônio e Feliciano, filhos de Savador Fernandes Furtado de Mendonça, descobridor do Ribeirão do Carmo. Nesse período já havia um número razoável de mineradores trabalhando no Ribeirão dos Prazeres.

No entanto, os moradores de Lavras Novas afirmam que a localidade teria sua origem na mineração de ouro de propriedade do filho do guarda-mor que residia na região e extraía ouro em Lavras Novas, no Salto e na Itatiaia. O número de escravos trabalhando na região era grande, porém eles não ficavam no local, dormiam na Fazenda do Manso (hoje, Parque do Itacolomi).

A região era muito visitada por autoridades, pois aquele era o caminho, utilizado para chegar a Ouro Branco. A igreja foi construída pelos mineradores, e os escravos apanhavam pedras na entrada do distrito para a obra. Afirmam, inclusive, que os grandes blocos de pedra solta, ao longo do caminho de entrada do local é obra de escravos, não da natureza.

De qualquer maneira, foi no século XVIII que o povoado desenvolveu-se, já que por volta de 1740 a Capela dedicada a Nossa Senhora dos Prazeres já tinha sido construída e a Irmandade estava em pleno funcionamento. O povoado também devia comportar número razoável de pessoas devido ao tamanho, beleza e imponência da igreja.

A mineração sobreviveu até meados de 1780. Depois dessa data, os mineradores que se enriqueceram ou não, foram deixando pouco a pouco a região por ser um local de difícil acesso, sendo necessário atravessar montanhas íngremes para se chegar ao local, a comunicação com Vila Rica era muito difícil.

Mesmo assim, um pequeno conjunto de pessoas decidiu continuar residindo no local, se eram negros ou mulatos, provavelmente eram livres ou libertos. A idéia de que Lavras Novas seria remanescente de quilombo não faz muito sentido: a região de mineração era muito vigiada. O equívoco da idéia de quilombo vem da forma de organização social em que se encontrava a comunidade local no início do século XX.

Durante o século XIX, vivendo sozinha e isolada, a comunidade de Lavras Novas adquiriu um jeito todo particular de se organizar. Sendo composta por aproximadamente 500 habitantes na época, a maioria parente de consangüinidade. Já que os casamentos aconteciam entre as famílias do local, eles não tinham preocupação com a propriedade da terra, era de consenso que ela pertencia à santa. A subsistência também era praticada por todos. Da mesma maneira, todas as festas religiosas ou civis eram compartilhadas por todos os membros. As doenças eram curadas com as ervas locais devido a dificuldade em se conseguir médico e remédio de farmácia.

Para conseguir dinheiro, produziam cestas, balaios, enfeites, trabalhados em taquara. Normalmente, era serviço das mulheres recolhê-las nas matas da região, preferencialmente entre os meses de maio a agosto quando o bambu está livre de caruncho. Há quatro tipos de taquara que são utilizados com finalidades diferentes. Também se retirava lenha. Eram os homens que levavam todos os produtos para serem vendidos em Ouro Preto e, com o lucro, compravam pano, sal, açúcar e outros objetos que não eram produzidos na região. O caminho mais fácil era passando pela estrada da Fazenda do Manso, porque a estrada da Rancharia era mais longa e tortuosa.

Na falta de autoridade instituída, a comunidade sempre tinha um líder natural, alguém que se destacava por seus conhecimentos, sabedoria e capacidade de conciliação dos problemas. O último deles foi o Sr. Pedro Rabicó, falecido há aproximadamente 15 anos.

Dotados de grande religiosidade, os acontecimentos mais importantes da região eram as festas dos santos, especialmente a de Nossa Senhora dos Prazeres no dia 08 de setembro. Em janeiro se realizam a folia de reis e a marujada; na Semana Santa eram praticados cultos da quinta e sexta-feira da paixão. Atualmente se realizam todos os atos da Semana Santa, sendo os cultos realizados preferencialmente em latim. As festas juninas também eram muito animadas e sempre acabavam com um baile. À tardinha sentavam nas portas das casas e, debaixo da luz dos lampiões, contavam causos do passado local.

Lendas

Aparições
O imaginário popular é repleto de lendas e histórias, a mais famosa se refere às aparições de Nossa Senhora dos Prazeres. Dizem que ela sempre apareceu para uns com um manto azul e uma veste branca; para outros toda de branco envolta em uma nuvem. Crianças e adultos já contemplaram a virgem, mas todos esperam que ela se manifeste e diga o que deseja da comunidade. Os mais velhos dizem que ela já aparecia para seus pais e avós. Após 1953, as aparições tornaram-se mais freqüentes, por isso construíram uma pequena ermida para a santa. A gruta se localiza nas paragens onde ela faz aparições.

Portão de Ouro
Outra lenda muito contada é a do Portão de Ouro. Segundo a tradição oral, existia um portão que indicava um caminho em direção a Ouro Preto, atravessando a serra com menos de trinta minutos. O portão desapareceu com uma grande tempestade que inundou parte do distrito. Depois disso, quando querem passar pela Serra, as pessoas que se dirigem ao local avistam um portão de ouro, mas todos aqueles que tentaram transpô-lo nunca mais voltaram. Quem se arrisca a atravessar o portão sempre encontra um bando de morcegos que empurra as pessoas para trás, impedindo-as de entrarem. As que insistem acabam desaparecendo.

Mãe-de-Ouro
A lenda da mãe-de-ouro fala de uma bola de fogo, muito dourada que passeia pelas capoeiras onde existe ouro, mas não devem ser explorados.

É assim que a comunidade de Lavras Novas se desenvolveu, com costumes, tradições e comportamento muito próprios. Tudo começa a se modificar quando a Fazenda do Manso inicia o cultivo de chá e as pessoas da localidade, principalmente as mulheres, vão trabalhar na fazenda. Assim que a estrada permite tráfego de automóvel, a atividade de extração de lenha se intensifica, posteriormente parte da população, inclusive mulheres, vai trabalhar no serviço de reflorestamento de eucalipto. A chegada da mineradora a Saramenha também recruta muitos trabalhadores de Lavras Novas.

As mudanças ocorrem efetivamente por volta de 1970, quando são introduzidas no distrito a luz elétrica e a televisão. O contato com Ouro Preto se torna mais intenso, os valores e os costumes vão sofrendo alterações. A partir de 1984 o turismo passou a fazer parte da vida local, incentivados pelo Senhor Oscar Rocha, antigo morador que recebia com carinho os visitantes que ali chegavam. As primeiras famílias vindas de Belo Horizonte fizeram pequenas pousadas com arquitetura bem particular, sendo a primeira a Pousada da Pedra. A população aceitou o turista porque este trás renda para o distrito. A estrutura para recebe-lo já conta com várias pousadas e restaurantes. A atividade turística se expande e hoje já representa significativa na composição da renda das famílias.

Atualmente, a maior parte da população trabalha para o turismo, outra parte da população trabalha fora, principalmente em Ouro Preto em atividades diversas, mas saem pela manhã e voltam à noite. O artesanato em taquara, já foi atividade de toda a comunidade, hoje é realizado por no máximo dez famílias. O comércio é feito em Ouro Preto, Mariana, Belo Horizonte (Tok Stok) e São Paulo, sua lucratividade poderia ser maior se houvesse uma cooperativa encarregada das vendas. Outro problema sério enfrentado pelo artesanato é a ausência do bambu em Lavras Novas. Para renovação da taquara plantada é necessário de sete a oito anos, mas há aproximadamente dez anos um fogo queimou os bambuzais próximos à localidade e não se conseguiu replanta-los, sendo necessário busca-los em locais cada vez mais distantes. Mas a comunidade não quer perder esta tradição, o artesanto em taquara é ensinado na escola e conta anualmente com uma média de vinte alunos, praticamente todas as crianças já aprenderam os primeiros passos desta arte.

Visitar Lavras Novas é como voltar no tempo. Os rios, as cachoeiras e os campos são um convite irrecusável para um contato mais intenso com a natureza. No centro do distrito, ergue-se imponente a igreja de Nossa Senhora dos Prazeres como um manto a proteger o seu povo. Dos dois lados da igreja se estende um conjunto de casinhas tão bonitas e bem arrumadas que parecem desenhadas para compor um cenário de beleza e tranqüilidade.

Dia de São João, uma tradição que vale a pena ser vivida!

João Camilo, João “de Carlos”, João “de Efia”, João “de Bobóia”, João Alves, João Bispo, João Paulo, João Eduardo e João “Canço”. O nome que mais popular do Brasil já não encontra tantos homônimos em Lavras Novas. Ainda assim, a tradição do dia de São João guarda traços e causos dos tempos antigos.

Na noite do dia 23 de junho, por volta das sete horas, todos os moradores do lugarejo acendem fogueiras nas portas das casas. É hora dos vizinhos se reunirem para relembrar histórias e colocar a prosa em dia. O fogo ajuda a espantar o frio.

Na noite do dia 23 de junho, por volta das sete horas, todos os moradores do lugarejo acendem fogueiras nas portas das casas. É hora dos vizinhos se reunirem para relembrar histórias e colocar a prosa em dia. O fogo ajuda a espantar o frio. Tudo graças aos pedaços de gravatá, também conhecidos como canela de ema, que substituem a lenha e deixam as chamas mais fortes. Quem olha do alto do morro, fica admirado com o visual iluminado.

Mas o melhor da festa ainda está por vir. Conta a tradição, que cada morador que se chamar João deve oferecer aos “conhecidos” alguma prenda. Logo que as fogueiras são acesas, o povo começa a “peregrinação”. Os amigos vão andando juntos, de casa em casa. A porta da sala está aberta. Na cozinha, os anfitriões esperam as visitas com um bom humor diferente, bem receptivo.

Quem chega, fala alto bem na entrada: – Café de São João!

E os donos da casa respondem: – Pode entrar que tá quentinho!

Dona Efigênia Rocha é mãe de João Eduardo e preparou uma canjica para este ano. Ela conta que, antigamente, preferia fazer um “café com biscoito” para dar aos amigos. “Resolvi mudar o cardápio porque os meninos começaram a trazer uns saquinhos de papel e encher de biscoito para levar na escola no outro dia”, diz achando graça.

Mas não é todo mundo que resolveu inovar. Na casa de João “de Carlos”, Dona Dalva passou um café forte e comprou duas caixas de biscoito de leite, além do refrigerante para as crianças, que estavam mais preocupadas em soltar foguetes e bombinhas. “Hoje já não tem tanta gente com nome de santos. O pessoal prefere colocar esses nomes de novela ou então inventar” lamenta.

Na casa de João Camilo, as mulheres ficam lembrando as festas de décadas passadas. Dona Maria da Paixão diz que, em outros tempos, quando Lavras Novas não tinha energia elétrica, era tudo mais bonito. “A gente ficava perto da fogueira esperando o namorado, que às vezes só aparecia quando o fogo já tinha apagado e só sobravam as cinzas, mesmo assim, depois de muita reza pra São João”, recorda.

O professor João Baptista Drummond mora na Chapada e participou da festa de Santo Antônio, no dia 12, quando os moradores que chamam Antônio também ofereceram canjica e café. João foi tão bem recebido que resolveu voltar. Ele diz que nunca tinha conhecido tantos “xarás” ao mesmo tempo. “Quando era pequeno, queria me chamar Ricardo ou Fernando. Hoje, tenho orgulho de ter um nome tão bonito e popular”, conta.

A festa de São João só terminou quando os pedaços de gravatá já não eram mais suficientes para manter o fogo aceso e espantar o frio. Mas quem não quer esperar o próximo ano para provar a canjica feita pelos moradores de Lavras Novas, tem ainda mais uma chance. No próximo dia 28, será comemorada a festa de São Pedro (as comemorações sempre acontecem na noite anterior ao dia do santo). Vale a pena encerrar o mês de junho “proseando” em volta da fogueira.